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Noticia

Nós e os Animais: o mundo de ponta-cabeça

09/03/2008 - 12:14h
Nós e os Animais: o mundo de ponta-cabeça

Muitas vezes acho que o mundo está de ponta-cabeça. Eu observo algum fato e espero determinadas atitudes das pessoas, mas tudo acontece ao contrário.
Gosto de animais e não consigo ficar indiferente ao seu sofrimento e por
isto, sempre que posso, ajudo um animal abandonado e procuro lhe
proporcionar uma vida feliz em um lar seguro.
Mas, quando iniciei minha atuação como protetora independente, recordo que
ficava sempre me explicando e justificando, como se precisasse me desculpar
por escolher este caminho.
Isto aconteceu há mais de 12 anos e naquela época eu queria que as pessoas
soubessem que, apesar da minha escolha eu era jovem, casada, tinha filhos,
uma profissão e uma vida tranqüila. Bem diferente do estereótipo que
atribuem aos protetores que são vistos como velhos, solitários, sem vida
particular e desequilibrados. Quando o assunto é proteção animal surge
sempre aquela imagem preconceituosa que identifica os protetores com pessoas que não querem ou conseguem viver sua própria
vida e então precisam se identificar com um ser necessitado.
Eu discordo deste ponto de vista e sempre me perguntei: por que nossas
escolhas não podem ser feitas por amor? Conheço várias pessoas que decidiram fazer alguma coisa para melhorar o mundo, justamente por se sentirem realizadas.
Depois de algum tempo, cansei de me justificar e entendi que uma pessoa de
bem com a vida pode e deve fazer alguma coisa por aqueles que ama.
Mas, até hoje, depois de anos de experiência, muitas atitudes dos humanos
ainda me chocam, pois quase sempre espero uma resposta positiva, mas ela
raramente acontece.
Todas as vezes que a mídia deu destaque ao nosso trabalho, (meu e de minhas
parceiras) tivemos um bom retorno. Várias pessoas elogiaram nossa atitude;
outras se identificaram e escreveram dizendo que também gostariam de fazer a
mesma coisa pelos animais; alguns quiseram nos doar ração ou ajudar na
divulgação; poucos adotaram; mas a grande maioria pediu para resgatar um cão ou gato que estava na porta de sua casa.
Então, você conclui que sua atitude provoca efeito contrário, ela dá
oportunidade para que algumas pessoas se aproveitem da situação e se sintam
aliviadas por encontrar alguém que assuma seu problema.
Se as pessoas tivessem um mínimo de sensatez saberiam que você, exatamente
pelo trabalho que faz, precisa doar os animais que estão sob seus cuidados e
não acolher novos. Muitos dizem que não podem ajudar determinado animal,
pois já tem um ou dois em casa e se esquecem que os protetores cuidam de
dezenas deles!
O problema é que a maioria das pessoas não assume suas responsabilidades e o exemplo mais comum com o qual convivemos diariamente é: vou me mudar para um apartamento, mas não posso levar meu cãozinho que viveu comigo 10 anos. Ele é muito amoroso e bonzinho e eu o amo muito, mas se você não o pegar hoje, vou ter que encaminhá-lo à Zoonozes.
Além de tentar transferir o problema, este indivíduo ainda faz chantagem
emocional, pois sabe que o sofrimento dos animais nos atinge diretamente.
Por isto, é muito comum encontrarmos protetores que se desequilibram
emocionalmente. Sempre digo aos mais jovens que eles precisam aprender a
dizer não para proteger sua saúde mental e os animais que estão sob seus
cuidados.
É preciso fazer um trabalho educativo e ensinar como doar os animais, como
utilizar a Internet e os sites de adoção, que são muito visitados.
É preciso dar dicas de comportamento, alimentação, cuidados, mas não devemos acolher o animal sempre.
Algumas pessoas pensam que temos a obrigação de assumir todos os casos que aparecem, mas isto é impossível, mesmo que tivéssemos para gastar verba do Estado e também de particulares. Todas as instituições beneficentes têm um
limite para sua atuação, imagine então os protetores que usam dinheiro de
seu próprio bolso.
Por atender aos inúmeros apelos que chegam, muitos protetores se endividam,
perdem seus bens, se privam de tudo e acabam sem recursos para cuidar de
seus próprios animais.
Apesar de sua luta diária, muitas pessoas também te olham atravessado como
se você fizesse um trabalho menos qualificado por não cuidar de gente, mas
sim de bicho.
Existe uma escala de valores que foi estipulada pelos seres humanos onde
estes, apesar de todas suas deficiências, aparecem em primeiro lugar na
hierarquia e todos os outros seres vivos aparecem em segundo plano.
Aqueles que criticam a atuação dos protetores não entendem como eles podem
gastar seu tempo e dinheiro para cuidar de um animal, enquanto tantas crianças estão nas ruas precisando de ajuda.
Acredito que a pessoa que se dispõe a ajudar pode escolher entre várias
opções, todas elas necessitadas e dignas de ajuda. Quem luta por um mundo
melhor pretende que não existam crianças e cachorros pelas ruas passando
necessidades e implorando por comida e um teto.
O que normalmente ocorre é que a pessoa que quer mudar o mundo vai batalhar por quem tem mais empatia, sem menosprezar nenhuma espécie em particular.
Por isto me identifico com aqueles que vão à luta e saem de seus redutos, de
seus casulos e têm a coragem de ajudar crianças, idosos ou animais.
Mas, neste mundo de ponta-cabeça em que vivemos, os que escolhem ajudar os animais não são valorizados, ao contrário, são encarados como lixeiros. O
trabalho que eu e outros protetores independentes fazemos é exatamente este:
recolher o que muitos insistem em jogar fora.
Muitas pessoas encaram os animais como objetos, quando na verdade eles são
seres senscientes que sofrem, amam, sentem medo e dor e não devem nunca ser descartados.
Mas, se muitos humanos jogam fora seus próprios filhos, por que iriam se
preocupar com o destino dos animais?
No caso das crianças, você tem pelo menos como reagir ao abandono: aciona a Polícia e a criança é recolhida e encaminhada para um hospital ou é levada
para uma creche.
Já no caso dos animais, a situação é bem mais complicada. Como todos os
abrigos existentes, que são quase todos particulares, estão lotados, as
pessoas acionam o Centro de Zoonozes de sua cidade e os cães ou gatos são
sacrificados alguns dias depois, ou seja, não lhes é oferecida nenhuma
chance.
Alguns irão se lembrar que os animais são tutelados pelo Estado, isto quer
dizer que o Poder Público deveria ser responsável por todos que se encontram
nas ruas, responsável por sua sobrevivência e seu bem-estar.
Mas, a realidade é que se você cidadão não fizer a sua parte, os animais
estarão à mingua, morrendo a cada esquina, fato que infelizmente está
acontecendo cada vez com mais freqüência.
Aqueles que não se incomodam com esta situação são as mesmas pessoas que não se importam se o planeta está sendo destruído ou se muitas espécies estão em processo de extinção. Esta é a triste realidade, mas as pessoas estão tão
voltadas para seu mundinho particular que não têm uma visão do todo e se
esquecem que este todo é essencial para a preservação de nossa própria
espécie.
E você, quando decide lutar por alguma causa, ainda é visto como diferente
ou maluco, pois ao tomar esta atitude estará fugindo do padrão aceito pela
maioria. Ninguém entende como alguém pode se dedicar a salvar vidas e não
utilizar seu precioso tempo para consumir ou cultuar a beleza e a juventude.
Além de diversos outros fatores, este descaso para com a vida que
presenciamos o tempo todo acontece porque existem duas falhas gritantes na
nossa educação: não fomos capazes de transmitir as noções de
responsabilidade e de respeito às novas gerações. Eu me refiro à
responsabilidade individual e intransferível que cada um de nós tem para com
sua família, seus animais, sua cidade, seu país e o planeta.
A outra falha gritante é a ausência de respeito a todas as formas de vida,
princípio que deveria reger as nossas atitudes.
Sem estes dois parâmetros norteando nossa conduta, o mundo como nós o
conhecemos irá se extinguir.
Tentei, mas não consegui dar um tom a este texto: ele por vezes soa como um
apelo, outras vezes parece um desabafo. Mas, acho que a palavra certa para
defini-lo é Perplexidade.

Para conhecer nosso trabalho acesse: http://anjosparaadocao.multiply.com/

 
Fonte: Maria Augusta Toledo